O termo sororidade recentemente virou trend topic nacional no Google Trends devido à citação de uma das integrantes do BBB20, virando assunto momentâneo em threads nas redes sociais e grupos de Whatsapp. Na semana que o termo foi citado no reality show, de 9/02 a 15/02, o índice do Google Trends, que serve como termômetro de pesquisas em uma escala de 0 a 100, registrou um aumento repentino, saindo de um índice de buscas praticamente nulo nos últimos 5 e estourando os 100%.
Motivo para comemorar? Com certeza, pois o programa faz parte da programação de uma TV aberta que tem altíssima capilaridade em diferentes perfis de telespectadores, pessoas que nunca tiveram acesso ao termo tiveram a oportunidade de serem inseridas no assunto. Só que o debate durou pouco, perdeu fôlego nas conversas digitais e, logo na semana seguinte, o índice voltou praticamente à estaca pré citação BBB, variando entre 1 e 2.
Esse comportamento dos usuários de plataformas de pesquisa em relação à busca pelo termo sororidade revela muito sobre o estágio de maturidade do movimento pela equidade de gênero no Brasil e os desafios que temos pela frente na construção de uma sociedade mais inclusiva, onde todos entendam o significado de sororidade, seu papel no fortalecimento das redes de apoio entre mulheres para que juntas consigam romper preconceitos estruturais e discriminações históricas.
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Falta de continuidade
Infelizmente, esta é ainda a realidade de muitas empresas no Brasil: o destaque para o tema gênero apenas uma vez, ou alguma vezes por ano, em datas comemorativas, como o Dia Internacional da Mulher. Assim como no caso BBB e seu impacto na pesquisa do termo, a atenção ainda é pontual, passageira, não tem fôlego para ser trend topic por muito tempo e fazer evoluir o debate, incluir mais pessoas nele.
Esse talvez seja um dos maiores desafios atuais das iniciativas de diversidade e inclusão nas empresas: como ir além das datas comemorativas, criando programas contínuos de desenvolvimento e liderança para mulheres? Como estruturar redes de apoio de mulheres permanentes e treinar lideranças para mitigar os vieses inconscientes de gênero?
Como incentivar a prática da sororidade entre as mulheres nas empresas?
Mas afinal de contas, o que significa sororidade e qual a sua importância para as questões de gênero no ambiente organizacional?
Com raiz no soror do latim, que significa “irmã”, o termo sororidade no contexto do feminismo é a construção de uma rede de apoio e união feminina embasada na empatia e companheirismo como formas de promover mudanças contra a discriminação de gênero. A sororidade envolve desde a empatia com o que outra mulher sofre (mesmo sem sofrer o mesmo, e mesmo não a conhecendo) até ações organizadas em grupo, entre outras práticas e entendimentos.
Segundo o verbete Draft feminismo nos negócios a demanda pela sororidade surge a partir da cultura sedimentada no machismo estrutural, que afeta todas as mulheres e constrói uma cultura de forte competição feminina. Sua importância está na defesa da força de união do grupo para combater os danos emocionais causados à mulher vítima de opressões de gênero, especialmente no ambiente de trabalho. Por isso, a importância das empresas terem um olhar cada vez mais atento e ação proativa no incentivo de iniciativas, grupos de apoio e demais práticas e entendimentos que fortaleçam o sentimento de sororidade entre suas funcionárias.
A seguir, listamos algumas atitudes que as empresas podem tomar para valorizar a sororidade na construção de uma cultura mais inclusiva:
Leia: Por que precisamos ampliar a definição de diversidade se quisermos uma cultura mais inclusiva?
1. Não existe em cima do muro. Posicione-se.
Uma vez que a empresa entende a equidade de gênero como valor fundamental da sua cultura, é essencial que ela se posicione abertamente para seus diversos públicos sobre a prioridade do tema, incluindo: funcionários, investidores, terceiros, clientes, parceiros, fornecedores e todo o ecossistema de relações. Algumas formas de fazer esse posicionamento é através de relatórios públicos sobre gênero; campanhas de comunicação e conscientização; participação em fóruns empresariais e assinatura de compromissos com o mercado, como os Princípios de Empoderamento das Mulheres, promovido pela ONU Mulheres.
É necessário esse comprometimento público para a evolução e educação do mercado de forma ampla, estimulando que mais stakeholders se movimentam também.
2. Inclua a perspectiva de mulheres cis e mulheres trans, e tenha um olhar interseccional
As ações do seu programa de equidade de gênero deve contemplar perspectivas diversas, ou seja, tanto considerar o contexto social, cultural e econômico de diferentes grupos de mulheres.
Afinal, a vivência e as necessidades de uma mulher cisgênero será diferente das de uma mulher trans, bem como o de mulheres brancas e negras, ou de mulheres com ou sem deficiência. Por esse motivo, torna-se tão importante ter um olhar inclusivo, plural e interseccional.
3. Estimule a criação de grupos de mulheres
Os grupos de afinidades empresariais, chamados globalmente de ERG’s (Employee Resource Groups), vêm tomando um lugar central nas discussões sobre diversidade e inclusão dentro das empresa e são essenciais para o estímulo à sororidade, pois ajudam a gerar redes de apoio e oportunidades de networking às profissionais. Um estudo divulgado pela Forbes revela o impacto direto desses grupos na construção de laços sociais mais profundos: 65% das pessoas entrevistadas acreditam que os grupos de afinidade tem um impacto positivo no engajamento.
Além dos grupos internos, também há a possibilidade de formação de coletivos externos, que envolvam outras empresas do ecossistema, em âmbito nacional e até internacional, capazes de estimular ainda mais o movimento pelo fim das desigualdades de gêneros e promover iniciativas de networking, conscientização e capacitação para mais mulheres.
Esse é o caso da comunidade Lean In, criada por Sheryl Sandberg, COO do Facebook, uma rede global que estimula o encontro e união de mulheres para enfrentarem as barreiras que ainda existem e darem suporte umas às outras em casos de abusos. Nesta matéria do Meio & Mensagem, há mais 7 coletivos de mulheres que estão mudando o mercado de trabalho para nos inspirar!
4. Torne visível os vieses inconscientes
Vieses inconscientes são mecanismos de formação de estereótipos individuais e coletivos explicados pela neurociência como resultantes da organização cerebral, baseados tanto em nossas experiências e ambientes de vida, quanto em uma herança ancestral e primitiva.
Os vieses impactam diretamente as questões de gênero, não apenas na naturalização de comportamentos machistas e preconceituosos vindo dos homens, como também nas relação entre mulheres, que podem reproduzir esses mesmos comportamentos com outras mulheres.
Eliminar totalmente os vieses em ambientes corporativos é impossível, pois fazem parte do nosso mecanismo de funcionamento cerebral, porém o seu reconhecimento e consequente atuação proativa para garantir que eles não perpetuem um perfil único de liderança, masculino e branco por parte das organizações.
Promover workshops de vieses inconscientes específicos para recrutadores e lideranças, criar campanhas internas sobre o tema para todos funcionários e criar conteúdos educativos, são algumas ações que podem ser usadas para minimizar os impactos negativos dos estereótipos no desenvolvimento das mulheres.
Entenda mais sobre o impacto dos vieses nas empresas e aprenda a minimizá-los nesse outro texto no nosso blog. Aplicando essas 3 iniciativas de estímulo à sororidade, seremos capazes de construir ambientes cada vez mais seguros, inovadores e cooperativos em nossas organizações, onde as pessoas se sintam livres para serem elas mesmas e tenha forte sentimento de pertencimento.
Essa é a força da sororidade, vamos juntas?